E que nada poderia ter dado mais errado.
E que você não consegue nem ao menos se concentrar na fala alheia.
Tudo, tudo lhe cansa.
E que você se força a continuar lendo os livros abertos na sua frente.
E que o silêncio infernal da biblioteca lhe dá aquela maldita dor de cabeça.
Dor de cabeça que não há remédio que passe.
Aqueles dias em que nem mesmo o cigarro lhe alivia.
E que você sente tudo preso.
Tudo, até mesmo as lágrimas.
E que você fala baixo, que você muito se esforça para poder abrir os olhos.
Aquele dia em que você ouve as músicas e só quer sair correndo.
Abandonar tudo, esquecer de tudo.
E você fica olhando para a parede branca enquanto o professor fala do processo de trabalho.
E que você dorme de olhos abertos, enquanto seus amigos riem de qualquer coisa sem importância.
Aqueles dias que você não consegue nem ao menos sorrir para aqueles que você tanto gosta.
Aqueles dias em que a saudade dói bem mais.
E a voz do cantor lhe perfura o peito.
E seus olhos ardem e tudo fica tão sem sentido.
Para que tanta luta?
Para que tantas leituras?
Para que tanto cansaço?
Isso tem fim?
Cada dia que passa vale menos a pena tudo o que já foi feito.
E todas as noites sem dormir.
E todas as dores de cabeça.
As festas que não fui.
Os namorados que rejeitei.
Tudo isso para quê?
Estou cansada de tantos sacrifícios.
Quero uma cama, minha cama.
Preciso dormir.
Eu já não sei o que é dormir sem dor e acordar sem dor.
Eu já não durmo.
Me dopo com remédios, apago.
Já acordo sentido dores.
Preciso dormir.
Fechar os olhos e pensar em como meu dia foi bom.
Sonhar, acordar sorrindo.
Já não tenho nem ao menos as lembranças desses dias.
Eles sumiram, foram para longe.
Preciso parar.
Preciso ficar quieta.
Preciso dormir.
Só dormir.
Anne.