Há tempo que não sinto isso, mas hoje, agora, eu sinto uma imensa vontade de chorar. De abraçar bem fortes todos aqueles que estão em meus pensamentos nesse momento. Senti-los, ter a certeza de que estão ali e chorar apenas...
Liberar tudo aquilo que venho mascarando e escondendo durante algum tempo.
Não posso negar esse turbilhão de sentimentos e sensação que há dentro de mim. Não entendo, eu estou bem, muito bem e por questão de segundos tudo muda, e sem motivo algum. Tudo fica tão pesado. Não é questão de perder a razão de continuar, apenas percebo que nunca houve razão, nunca teve um motivo e então me vejo no chão, parada, sem nem ao menos piscar. Penso: “talvez se eu chorar eu melhore, quem sabe eu volte a viver.” Mas não adianta, as lágrimas não descem, começo a sentir demais.
Sinto tudo, mas não sei bem ao certo o que sinto, então deito. Imóvel olhando para a parede, então começo a tocá-la e a sinto. Fico com movimentos repetitivos, arregalo os olhos e não penso, apenas fico ali sem fazer nada, sem pensar em nada, apenas sentido.
Sinto tudo, sinto o ar, tudo me faz sofrer e ainda não consigo chorar. Amo tanto, e isso me acaba, amo cada gota d’água, mas o amor que trago comigo é demais, sem limite, ele está me matando e não consigo fazer nada para evitar.
Essa tristeza que me persegue, essa saudade que me machuca a alma, hoje é um dos dias que a saudade dói. Essa falta... Já tentei de tudo para preenchê-la. Não entendo antes eu não tinha muita coisa, mas o que tinha era suficiente, hoje tenho mais, muito mais, mas ainda me vejo presa ao chão, as lembranças...
Há dias em que é bom sentir saudade, recordar... É bem saudável, me faz sorrir para o nada, mas hoje não é um desses dias. Rastejo na tentativa de me esconder, não as quero, não hoje.
E essa música que me invade cada vez mais a alma, me leva para longe. É triste, tão triste que chega a ser bela, é algo divino. É carregada de sentimentos, mistério, é a busca por algo, algo que ainda não sei, mas toda essa melancolia, esse conflito muito me agrada. Não consigo parar. Já sou viciada, assumo. Sei que não me faz bem, mas gosto da sensação que ela me causa. É perturbadoramente Eu.
Espero algum dia poder colocar em palavras todo o nada que ele me causa.
Faun.
Faun é algo que não sei explicar, sinto, sinto tanto. Como se já fizesse parte de mim. Faun é inalcançável.
Essa leveza que me leva para longe e que ao mesmo tempo me afoga.
Estou cansada, não sinto sono, mas sinto dores. Apenas a alma está anestesiada. A coluna está quase pedindo socorro.
Não posso ficar, deito na cama com o corpo, mas a alma está por aí, pelo vento, pelo nada, dançando, sentindo...
...Sendo.
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Enquanto escrevia essas palavras cheias de angustia e confusão, conversava com a Mari no MSN.
Ela é simplesmente incrível. Consegui chorar. Ela venceu. Chorei. Não me acabei em lágrimas, mas agora me sinto mais aliviada.
Tudo que ela me disse, não sei explicar, mas eu pude sentir. Senti cada letra, então o coração acelerou, os olhos brilharam, a garganta ficou um tanto amarga e eu só conseguia sorrir.
De repente passaram-se tantas coisas pela minha cabeça.
Lembranças...
De uma hora para a outra eu não era mais a culpada, não me sentia mais estranha, anormal.
Lembrei de quando era criança. Sempre que chovia e relampejava eu sofria muito. Morria de medo, me sentia tão pequena, queria correr para os braços da vó, mas me segurava para não demonstrar minha fraqueza. Todos sempre riam muito de mim, aquele barulho parecia um inferno... Era a única coisa que me assustava na infância.
A Mari me trouxe conforto.
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